Ê nós!
Sentada no chão do banheiro mínimo, uma só janela por onde foge a fumaça. Ainda escuro, espreito o primeiro claro. Pensando. Aliás, cantando, pra não variar: “aqui os mortos são bons, pois não comem o pão dos vivos e não atrapalham em nada” – e era pra ser um canto de alegria. Ou não.
Cerâmica branca meia-parede, um grilo. Um grilo no portal, três pernas de cada lado, duas antenas grandes, um rabo, arremedo de mais duas atrás. Um grilo entrando no buraco da parede, o papel rolando, desenrolando no chão. Camelos como herança. O grilo e eu. Sem lua. Não sem grilos, que a um trocadilho cretino nunca pude resistir. De toda forma, o chão é frio. A noite, quente, longa e insone. Solidão e fumaça e café. E era pra ser uma festa. Ou não.
A bola amarela do sol dispersa as sombras. Amanhecem mirradas, evaporam, adensam nuvens recém-chegadas. Uma estrada, dois lados de mato, uma memória antiga, cheiro de manhã novinha, dor. Dormência. Trilha. Caminho. Chegada. Sérgio Ricardo, na vez: “tenho pra minha vida a busca como medida/o encontro como chegada e como ponto de partida”.
O que restou de terno em mim lembra a semente de feijão embrulhada pra presente.
Semente de hoje, mulher de amanhã. Espero, não uma a mais, sentada, mais adiante, em um chão de banheiro riscando no ar figuras de fumaça e cantando de memória coisas tristes.
Se no entanto há que ser assim, que assim seja, amém.
Melhor que matar o tutu-marambá.
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