segunda-feira, 15 de setembro de 2008

inverno-primavera-verão

Na janela envidraçada da sala, no breve momento de estiagem, o raio de sol apareceu, desconhecendo a invernada. Brincou com as sombras, afagou a mesa e uns braços nela pousados.
Das nuvens escuras, o vento trouxe mais e mais chuva, até a estação mudar.
Os braços, já fartos do frio, receberam a visita outra vez.
Prometeu a si precaução. Nada de queimaduras. Pra desconsiderar a promessa tão logo o viu, luminoso, tão logo o sentiu, aquecendo braços e o mais ao redor. Pra desconsiderar a promessa e abrir a janela. Janelas. A porta. Portas. A casa inteira. Não aos poucos, que de pouco não era. Expôs pele. Corpo. Sob o peito, o coração, onde ele se instalou. Onde fez pouso, não morada, que as estações sempre mudam. Onde fez festa, algazarra, dispôs encantamentos. E de lá varreu poeiras e certezas. Abriu gavetas. Queimou escudos. Revelou cicatrizes, remexeu-as.
E como aqueceu, queimou.
E como chegou, partiu.
Que havia o chamado lá fora por raios de sol.
No coração antes dormente, tornou-se sonho de calor. Que não era tempobom, tempoainda, tempodeser. Que tempo certo, nunca há.

- Já é primavera - ouviu dizerem. Olhou sem enxergar. Sem pranto, sem riso. Sem saber nem o que tinha sido mesmo, se raio de sol ou temporal.

E com alguma alegria ainda, que quando viesse a perceber a primavera, o verão já estaria pra começar.


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