sábado, 11 de outubro de 2008

bons conselhos

Se eu fosse nascer de novo e pudesse escolher como seria, ia querer ser uma mulher burra. Razoavelmente burra. E bela. Suficientemente bela. Não que essa questão tenha lá alguma importância. Mas o médio nos dois quesitos, beleza e inteligência, ao fim e ao cabo, atrapalhou-me um pouco a vida amorosa.

Fiz um balanço dela porque passei dos 40, fui avó recentemente, e isso me meteu na cabeça caraminholas, por uns motivos, dentre os quais:

- a alegria dessa novidade tardou bem uma semana;

- a ficha do tempo passando caiu de vez.

Talvez o segundo motivo tenha causado o primeiro. Talvez seja uma grande bobagem, já que é pra saber que a gente passa mesmo. Mas não se acredita muito até dar-se conta de, o que nem sempre é tranqüilo, que o digam todos os relatos sobre a tal crise da meia-idade.

Pois bem. O balanço me fez pensar que em sendo bela, poderia adotar o comportamento que antigamente-diadesses neste município era considerado tipicamente masculino, na prática, mesmo por quem mascarava os julgamentos&falatórios com o discurso beauvoiriano.

Em sendo burra, não assustaria nenhum eleito, que entraria na mesma proposta, sem grandes, médios, nem menores dramas.

Como tal não se deu e outra vida não há, segui pensando, matutando e insistindo teimosamente em acreditar no tal do amor. Vezemquando desacreditando.

Meio ao balanço e a um papo sobre o desacreditar, um amigo me aconselhou a ser mais burrinha, sob pena de em não sendo, padecer sempre no tema. E disse mais: nunca vá com muita sede a nenhum pote.

Como não me deu as fórmulas nem lhas pedi, continuei sem saber como fazer pra adotar os conselhos recebidos.
Daí que nas raríssimas vezes em que encontro um bom pote, além de ir a ele com muitíssima sede, geralmente tropeço, feito a moça do leite, que de tanto sonhar no meio do caminho com o que faria com o dinheiro quando o vendesse, acaba deixando o bicho cair e pondo tudo a perder. E lá foi o leite escorrendo pelo chão, o pote quebrado de vez, que em ser de barro, cola nenhuma remenda mais.

Então decidi, a bem da felicidade e segundo uns indianos, montar no rato – o desejo – para que não me domine, mas seja dominado. E viver, apenas. Disse isso a esse amigo, não sem tirar o velho e bom Chico do bisaco pra complementar: "hoje tenho apenas uma pedra no meu peito e exijo respeito, não sou mais um sonhador/Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor e dou risada do grande amor". Mentira!

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