sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ser e pertencer

São muitas as questões. Cada passo, um pedaço de caminho. Cada manhã, um desafio. Cada dia, um leão pra matar.
São muitas as informações sem serventia. O que se viu. O que se ouviu. O que se leu. O que se aprendeu (?). O que se instituiu como certo. Válido. Aceitável.
Muitos os papéis que se assume. E as interrogações em sua órbita. Faço, não faço, digo, não digo, sou, não sou, pareço ser. Quem você é, quem você pensa que é, quem somos, quem pensamos que somos, como somos vistos.
Identidade. Pesa aí o onde, como, porque. Quem você é em função de onde vive, de quem lhe cerca, do que lhe formou. Quem você é intimamente, com você e com quem lhe é caro.
Ser. Pertencer.
Alguém é homem, preto, brasileiro, nordestino, trabalhador, cristão, casado, vascaíno, vegetariano, social-democrata.
Alguém é humano. Ponto. O mais se refere a pertencer. Em cada aldeia, uma conduta. Desloque-se esse homem do seu meio. O que resta? O que conta?
Leonardo Boff relata que em um dos seus momentos na prisão, frei Betto queria um espelho, pois sonhou consigo, quando não mais lembrava como era o próprio rosto. E assim chegou à conclusão que era natural isso, pois somos feitos mesmo é para ver o outro. E nos esquecemos finalmente de nós quando reduzidos a nós mesmos, à nossa desimportância, à necessidade de buscar conforto além do nosso umbigo.
Alteridade. Palavra esquecida. Conduta esquecida.
O amor ocidental tem sérias distorções. É egoísta. Possui. Reduz. Aprisiona - pertencer.
O amor em sua essência é libertário. De doação. Partilha. Entrega. Revelação - ser.
No primeiro cabem todas as questões e informações sem serventia.
No segundo, pra quê?
São poucas as respostas. Bom para que se prossiga buscando.

Bom deixar que vivam os leões, que nas manhãs nordestinas, leões só em filme.
Ou em sonho. Tê-los perto é privilégio.

(pensando em M., que me fez querer ver além de mim, buscar o amor maior e me desnudar)

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