segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Como la luna llena

Uma fome, outra fastio. Uma come, outra, jejum.

Na alquimia do fim de mês, o milagre aparece brotando, de onde se pensava nada, pão de queijo, mangaba fresca, leite morno, café quente, cuscuz nordestino. Tudo feito devagar, que a cozinha não comporta duas.

E uma ralha: a outra ri.

Rindo, de manhãzinha, pela alegria da manhã e do encontro, brindando conversa fiada com papo-cabeça.

Uma escreveu sobre a outra, há tempos: “i love her, and i know: she loves me”. A outra capitulou. Como não entender?

A outra nunca escreveu sobre. Sempre para. Bilhetes, cartinhas, cartas, cartões. Postais. De onde estavam juntas sem estar. De onde estavam distantes sem estar.

Uma não queria atropelos, incertezas, desafios, não porque os temesse, mas pelo desinteresse mesmo de sua plácida e silenciosa morada touro-touro. Outra não queria repetir o que já havia: “dame la esperanza de um camino nuevo...”

Uma partiu, voltou. Outra partiu, voltou. Distintas, ficaram um pouco ao partir, deixaram um pouco ao chegar.

O que incomodava, lá bem no fundo, a uma e a outra, era saber de mais uma iminente, derradeira partida. Que as asas brotavam. Que as raízes cresciam. Que a estrada se bifurcava. Outro palco, outros papéis, onde já não estariam como uma e outra. Para aonde viriam outros mais. E tudo era obscuro, assustador, desconhecido e maravilhoso. E se assim era, como não querer?

Como não se despedir do presente com tristeza-alegria? Como não preparar a acolhida do futuro em tons pastéis-lilás-bebê?

Que tudo se reinventa. Que se encena outros papéis. Que o ciclo não se interrompe. Que a vida se recria, se refaz, finda, renasce, gira, passa, volta, mingua. E cresce.

Como Luna. Llena.

Nenhum comentário: