sábado, 30 de agosto de 2008

Pastilhas de freio

Era uma discussão interessante. Quem disse o que sobre o que. Porque disse. Os equívocos. Os acertos. As origens (?). As seqüências.

E assisti. E discuti. E refleti. E escrevi. Até não mais querer. Então fui para o mundo. Ver. Queria ver. Ray Charles é cego. Meu pai também. Já era antes de perder a luz dos olhos. Sou hipermétrope. Só à distância vejo bem. E vi. Quase tudo azul, não fosse pelo concreto e pelo – ainda – verde entrecortando o azul. Vi o cinturão de areia na cintura do mar. Duna branca, duna amarela. Asfalto preto, cinza, desbotado. Cidade azul. Cidade veloz. Velocidade minha confundindo as cores.

Mais de hora, indo, vindo. E vendo. Sem nada além do registro da cor e apreensão da paisagem na retina, que amanhã não sei, que retinose é hereditária. Que não herdei, me disse quem sabe. Herdei foi a sede de ver, ouvir, apreender, descobrir. Escapei das sífilis, por um triz. E vi, sem estado alterado de consciência, passado e presente, um no outro, outro no um. Futuro não, que não sou besta. Vi até cansar e querer voltar pras paredes. Minhas? Pra discussão inacabada. Pro abrigo, proteção, pitada de tédio e preguiça junto. No leito, antes do sono, penso na urgência em trocar as pastilhas de freio.

Desperto e me envolve, escapando das dobras do lençol, abafada até então pela visão e discussões do dia, a lembrança de um corpo no meu. Urge trocar as pastilhas de freio.

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