sábado, 16 de agosto de 2008

do medo


Forçou a fechadura, abriu a gaveta e saiu. Foi se aproximando devagar, esquivo, até que se acercou do coração e penetrou inteiro no corpo dela. E o pensava dominado, até então. Enganou-se. Contrariada, quis saber como o permitiu, como não o viu chegando, ameaçador, como não saiu correndo, como não fugiu a tempo. Pensou em afogá-lo com álcool e fumaça. Não ia adiantar. De algum modo sobreviveria e ressurgiria depois, persistente. Pensou em ceder, mas não era do seu feitio, nunca tinha sido.

Observou-o detalhadamente e viu o quanto era fraco, acanhado, insignificante mesmo, o medo que fugira da gaveta.

“Eu ainda te procuro, pelo amor, pelo futuro/Me recuso a desistir de ser feliz” – disse a canção no rádio. Cantou junto. Baixinho. Mais alto. Gritando. Foi aí que o viu - o medo - murchando, minguando, encolhendo. Até desaparecer.

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