quinta-feira, 24 de julho de 2008

Depende de como você quer ver

Amanhece. O canto dos grilos e os bem-te-vis saúdam o dia. Pela janela, o céu de um azul indecente emoldura os galhos do cajueiro em flor. O vento brinca de espalhar raios de sol pela sala, refletidos nas folhas da palmeira. Na soleira da porta, sempre apressado, o beija-flor costumeiro parece pairar por uns segundos e de novo some. A vida traz em conta-gotas os seus presentes.
Ouso querer me perguntar como não estar feliz diante de tanta beleza gratuita e me assaltam as raízes da educação católica e do doutrinamento partidário do passado, perguntando, por sua vez, sobre os flagelos do mundo. Empurro esse pensamento pra longe, deixo a preguiça ir saindo devagarinho, prefiro me deter sobre a utilização do espaço aéreo e os vôos de baixa altitude das abelhas e arapuás. Na natureza, tudo se harmoniza. Em sociedade, o oposto. Deixo a segunda de lado por enquanto, sem culpas.
Um amigo me diz que tudo depende de como você quer ver. Discordo dele pra que possamos discutir sobre isso. O debate me agrada. No fundo, concordo, mesmo sem querer dar o braço a torcer. A vida está aí, a mesma vida, sendo percebida de múltiplas formas. Sobre o mesmo fato, várias interpretações. Sobre a mesma paisagem, olhares diversos.
Estou feliz, sinto muito, desculpem-me os que não. Sinto-me hoje, não sei porquê, parte da dança da palmeira, da viagem do vento, da cantilena dos bichos, dos raios de sol. Sinto a alegria da leveza, sem questionar demais, sem complicar demais.
Dia de viver, tão somente. De sentir, sem querer sempre compreender tudo, porque nem tudo se compreende. De seguir em frente, sendo feliz quando dá.
Tudo depende de como você quer ver.

(Obrigada a Bob, pelo mote)


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